Saturday, October 16, 2010

PANORAMAS POLÍTICO-RELIGIOSOS NO 2O TURNO


Introdução:

Recentemente, recebi email de um nobre colega pastor, cujos anexos incluíam a "Carta da Candidata Dilma Housseff aos Cristãos", que pode ser encontrado facilmente na internet e um outro texto intitulado “Reflexões Sobre Eleições, Cidadania e Fé”, o qual não tenho autorização para transcrever na íntegra neste espaço.

Abaixo, transcrevo meus comentários, adaptando-os ao contexto de um texto aberto à consulta pública, procurando preservar identidades e aspectos pessoais.

Sobre a Carta da Candidata Dilma, TEÇO OS SEGUINTES COMENTÁRIOS E ELABORO AS SEGUINTES QUESTÕES:

1.Considerando que a candidata é “pessoalmente contra o aborto” e que “defende a manutenção da legislação atual sobre o assunto”, (Ítem 2) POR QUE, além de “não propor alterações de pontos que tratem da legislação do aborto e de outros temas concernentes à família e à livre expressão de qualquer religião no País” (Ítem 3), TAMBÉM NÃO SE COMPROMETE a orientar a sua base de apoio parlamentar no Congresso – que será majoritária nas duas casas – neste mesmo sentido?
Por que TAMBÉM NÃO SE COMPROMETE até mesmo a vetar, nos termos da lei, qualquer lei aprovada pelo Congresso que contrarie esta posição pessoal e institucional assumida por ela?
Obviamente que, depois de eleita, a candidata Dilma poderá até não propor mudanças na legislatura, mas poderá muito bem liberar qualquer congressista de sua base parlamentar a fazê-lo, a fim de depois alegar que não tomou a iniciativa e que precisa respeitar a vontade do Congresso, não usando assim a força política para barrar os projetos de lei nas comissões e no plenário das duas casas, além de não usar o instituto do veto presidencial como o próprio presidente Lula já usou recentemente.
Sabemos que o veto tanto pode ser jurídico quando for comprovada sua inconstitucionalidade, como político quando for comprovado o interesse contrário ao do povo (nação).
Sabemos que o Presidente da Republica tem poder de veto total ou parcial sobre um projeto de lei, comprovando sua justificativa de veto. E apesar de o Presidente não ter poder absoluto, podendo as casas revisoras concordar ou rejeitar o veto, a maioria absoluta exigida pela Constituição para derrubar o veto, obviamente tornaria a aprovação da lei muito mais improvável.

2.Considerando que a candidata Dilma pretende "editar leis e desenvolver programas que tenham a família como foco principal" (Ítem 6) de onde se conclui que ela tem pleno conhecimento das questões importantes para a preservação do núcleo familiar, POR QUE NÃO EXPLICITA quais "iniciativas que afrontam à família no PNDH3", que estariam sendo revistas?
Por que a candidata NÃO SE COMPROMETE, se eleita, a excluí-las liminarmente do PNDH3, chamado de uma “ampla carta de intenções”?
Se é apenas uma "carta de intenção", por que dar a importância a ponto de admitir que está sendo revisto? Se não é apenas uma carta de intenção - como é o mais provável - então, por que não explicitar o que está sendo revisto e por quais razões?
É notório que a candidata mudou de opinião sobre temas importantes para nós cristãos e embora lideranças do PT afirmem que isto representou uma “evolução” das opiniões da candidata sobre estes assuntos, que garantias há que não haverá um retrocesso pós-eleição?
É preciso mais do que uma carta genérica escrita para “pôr um fim definitivo à campanha de calúnias e boatos espalhados por meus adversários eleitorais”, o que dito assim, por si mesmo já apontaria uma serventia eleitoral ao documento.


Sobre seu documento “Reflexões Sobre Eleições, Cidadania e Fé”, CONSIDERO DE BOM ALVITRE TODA INICIATIVA DE DISCUSSÃO LIVRE E DEMOCRÁTICA SOBRE POLÍTICA, mas entendo que:


1.Considerando ser um documento com o “propósito de contribuir, como cidadão” e como “uma reflexão de um cristão que deseja contribuir com o exercício da cidadania e não como uma palavra de orientação pastoral”, ENTENDO QUE O COLEGA NÃO DEVERIA TER ASSINADO NA CONDIÇÃO DE PASTOR PRESBITERIANO, nem muito menos tendo a subscrição “Igreja Presbiteriana do Brasil”, porque o irmão nem fala em nome da igreja que pastoreia, a não ser que exista documento do Conselho autorizando-o a pronunciar-se assim, nem em nome do Concílio, além de não falar, obviamente, em nome da Igreja Presbiteriana do Brasil, múnus restrito ao Supremo Concílio da IPB.
Entendo que é tênue a fronteira entre sua cidadania e seu pastorado – encontro-me na mesma situação – e por isso, ao posicionar-me no 1º turno em favor da candidatura de Marina fiz questão de afirmar e escrever em alto e bom som que o fazia na condição de “cidadão brasileiro”, respeitando assim a ideologia e convicções políticas dos meus colegas pastores, das minhas ovelhas e a isenção institucional da Igreja Presbiteriana do Brasil.

2.Considerando que, conforme você escreve, “os evangélicos estão mandando para os partidos e para os políticos o ‘recado’ de que os cristãos precisam ser ouvidos”, CONCORDO PLENAMENTE com seu pensamento de que é “um ponto positivo de afirmação da inserção cristã evangélica no debate político nacional e que atualmente pode ser observada”, ainda que esta “inserção da voz evangélica no debate eleitoral ainda é feito com amadorismo e imaturidade.”
Entendo que cidadania e democracia se aperfeiçoam pela prática e, portanto, acolho com alegria e esperança a participação de tantos cristãos, especialmente os jovens, neste processo eleitoral, esperando e orando para que após a eleição este ímpeto não seja arrefecido, visto que o remédio para a má política é a boa política e não a omissão política.

3. Considerando que, muitos cristãos – não todos, certamente – “labutam em equívoco quando querem exigir dos candidatos que procedam como se fossem portadores da mesma fé que os evangélicos abraçam e procuram honrar” e que “não é correto e até sensato ‘satanizar’ candidatos para justificar a rejeição pessoal a qualquer deles” e que também erram “quando participam, por exemplo, da proliferação de mensagens via internet que buscam desqualificar candidatos e partidos”. CONCORDO PLENAMENTE com seu posicionamento de que “não havendo um candidato evangélico que inspire confiança pela qualidade do compromisso de fé que possui e pelo projeto que tenha a oferecer, o eleitor evangélico deve escolher um nome que, mesmo não professando a mesma fé, apresente um projeto consistente e confiável, que promova o bem e a justiça em favor de todos os cidadãos. Não deve interessar aos cristãos os governantes que lhes garantam privilégios, mas sim os que assegurem os direitos sem distinção”.
Lamento que este “candidato evangélico que inspire confiança pela qualidade do compromisso de fé que possui e pelo projeto que tenha a oferecer” existisse concretamente na pessoa da nossa irmã e ilustre senadora Marina Silva, a qual não recebeu o apoio necessário importante de tantos líderes, como nós pastores, que há décadas oram pelo país, especialmente para que Deus levante autoridades tementes a Deus para dirigir o Brasil.
Todavia, tenho certeza de que, em 2014, a oportunidade será renovada, bem como em 2012, nas eleições municipais, razão pela qual já oro e me mobilizo para que a defesa de um país que avance para uma democracia plena através de práticas políticas sadias - enterradas por aqueles que nos disseram antes que a esperança tinha vencido o medo - concretize-se num desenvolvimento sustentável e em justiça social ainda maior.

4. Considerando que, no mérito do documento – sua opção pela candidata Dilma – não há o que comentar, visto que é uma posição pessoal, ideológica, na condição de militante do Partido dos Trabalhadores que você é há muito tempo, e que junto com você há lideranças neopentecostais significativas como, dentre outros, Edir Macedo, bispo presidente da Universal do Reino de Deus, a quem a candidata Dilma destinou sua carta, DEFENDO FERREAMENTE O SEU DIREITO DE PRONUNCIAR-SE POLITICAMENTE como manifestação cidadã no pleno estado de direito em que estamos e por isso, agradeço a oportunidade de repercutir o documento que me enviou.

Com os melhores votos de apreço e consideração e no espírito e propósito comuns de orar pelas autoridades constituídas por Deus e ser, como Igreja, pastores e cristãos, a consciência do Estado, despeço-me.

Fraternalmente,

Robinson Grangeiro Monteiro

1 comment:

João Vicente Ferreira Neto said...

O texto vem em momento oportuno.

A internet é uma ferramenta de comunicação excelente se bem utilizada como no caso da sua escrita.

Espero que outros leitores possam acessar e contribuir de alguma forma a discussão.

Penso que o pleito deste ano é difícil escolha e quanto mais colocações sérias dentre as tais esta sua forem apreciadas corroborão para a escolha de um dos candidatos ou pela certeza do voto nulo.

Forte abraço!