Tuesday, November 27, 2007

Espírito Natalino


Há poucos dias alguém comentou comigo casualmente: “Ainda não entrei no espírito natalino neste ano!”, ao que respondi perguntando: “E o que é este espírito natalino”. Recebi um vago dar de ombros que encerrou o curto diálogo.
Ano após ano me faço a mesma pergunta e obtenho as mais diversas respostas. Todas insatisfatórias, diga-se de passagem. Alguns evasivamente falam de uma “atmosfera mais solidária” ou “de algo no ar que nos faz sentir melhor e nos motiva a querer ser melhor”.
Tenho descoberto que o tal do espírito natalino tem mais a ver com certo feedback ou resposta no automático que nos acostumamos desde criança a oferecer quando vai findando novembro e as vitrines das lojas e os anúncios da TV brilham com luzes natalinas e reverberam com os identificáveis “ho-ho-ho” noelinos.
Isto quando se tem uma infância padrão. Algo classe média, pequeno burguês e família nuclear mais ou menos ajustada ao padrão normal. Porque quando a pobreza – material e emocional – foi a tônica e a desfuncionalidade – existencial e relacional – a constante, então, nem natal, nem festa alguma do ano tem qualquer graça.
Pois bem. Eu creio no Espírito Natalino. Não soa muito ortodoxo para uma calvinista dizer isto, porque logo soa meio contemporizador com certo liberalismo, ou melhor dizendo, com uma capitulação ao “mundo”, essa entidade redefina pelos crentes como tudo que não é igreja.
O Espírito Natalino que creio não é outro senão o próprio Espírito de Deus que gera Jesus no ventre da bendita virgem Maria. Que permeia todo o primeiro natal entre os pastores nas cercanias de Belém de Judá e magos no longínquo oriente. Que compõem o magnificat na interioridade da esposa de José e faz uma estéril como sua prima Isabel saudá-la de júbilo nas montanhas da Judéia, enquanto Joãozinho, o que viria a ser batista, remexer em seu ventre na sintonia com o Salvador.
Este Espírito Natalino – que não passe despercebido o maiúsculo – não morreu e não morrerá jamais. Pode-se ter saudade dEle quando mesmo criado à imagem e semelhança dEle alguém se deixa enterrar na falsa embalagem do mercantilismo e das mensagens vazias que iludem corações precisando de arrependimento com litanias para fazer gente feia por dentro se tornar “do bem”, apenas por fora.
Mas, eu creio na ressurreição do Espírito Natalino tanto em corações, como em sociedades enterradas nas covas do egoísmo, do orgulho, da ostentação, da indiferença. Basta um encontro, um novo encontro com Jesus, o centro não apenas das celebrações do fim do ano, mas de toda a existência possível e plenamente feliz proposta ao ser humano.
O mesmo Espírito que gerou Jesus, que presentificou-se em forma de pomba no batismo, que conduziu à prova da tentação do deserto, que o capacitou a milagres, sinais e prodígios e enfim, na morte concedeu força para , do Getsêmane ao túmulo, não ser encarcerado pela morte e finalmente, ressuscitá-lo dentre os mortos é o tal Espírito Natalino do qual tanto se fala.
E aí não somos nós que precisamos “entrar” no Espírito Natalino. É Ele que desejar “entrar e permanecer” em nós neste fim de ano e por toda a vida.
Com carinho,
Pastor Robinson
PS. Alguém já me perguntou porque assino “pastor” e não “reverendo”. Fique atento para a mensagem “O valor de um pastor” na série “Sermões que não gostaria de pregar” e descubra a resposta!