Friday, December 31, 2010

Minha Última Mensagem de 2010

Introdução:

Pense numa coisa difícil é encontrar alguém com uma mensagem diferente de “Feliz Ano Novo”. Seja em alguma rede social como Orkut, Facebook ou Twitter, seja em contatos pessoais, todos nós acabamos nos repetindo através de chavões ditos e reprisados de anos anteriores.

•“Muita saúde e paz!”
•“Próspero ano novo!”
•“Muita saúde e dinheiro no bolso!”
•“Tudo de bom!”
•“Que seus sonhos se realizem!”
E assim vai.

Não é bem “culpa” nossa. De fato, temos a intenção mesmo de que coisas boas aconteçam quando manifestamos os nossos votos. E, via em regra, o que desejamos é realmente o mais importante: saúde, paz, alegria, realizações etc.

Mas, o problema é quando pensamos:

“E como isto tudo pode REALMENTE acontecer,
de modo que o ano de 2011 seja REALMENTE NOVO?”.

Acho que, meio sem querer que fossem votos de feliz ano novo, vi postado no Facebook uma mensagem de um amigo que tomei como votos de feliz 2011 e dizia assim:
“A esperança tem duas filhas lindas, a Indignação e a Coragem: A Indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão e A Coragem, para mudá-las.”

Eu completei em resposta ao post dizendo que se é verdade que a esperança tem duas filhas chamadas indignação e coragem, eu afirmo que “elas nascem de uma mãe generosa: A Confiança no Deus que a tudo controla e nos faz instrumentos dEle para a mudança.”


Elucidação:


O texto que lemos faz parte de Eclesiastes 3, o livro que o sábio Salomão escreveu e que é considerado um dos mais complexos, principalmente por seu conteúdo aparentemente pessimista.

Na verdade, o livro todo trata da vaidade da própria vida. Vaidade não apenas no sentido de ostentação de aparência, de presunção, mas principalmente no sentido do próprio vazio e ausência de sentido e de propósito em muitos aspectos e momentos que passamos na vida e que nos fazem perguntar: “Por que isto acontece? Com que propósito?”

Salomão escreve Eclesiastes nos últimos anos de sua vida, cheia de aventuras, de sensações, de atos piedosos e muita expressão de sabedoria de Deus e, ao mesmo tempo, de muitos erros e atitudes contraditórias. Ele olha para trás para sua própria vida e faz perguntas difíceis, do mesmo jeito que, em proporção menor, também estamos hoje olhando para 2010 e nos fazendo também questionamentos sobre o porquê das coisas.

Ele havia escrito o livro de Provérbios, ensinando o bem viver em todos os aspectos da vida, e Cantares, enaltecendo o amor erótico por sua mulher sunamita, vista também como uma alegoria sobre o amor de Deus por seu povo. Agora, longe do vigor e do idealismo da juventude, derramava a sua angústia.

Mas, não é na angústia que Eclesiastes esgota a sua essência, mas no temor a Deus, pois o resumo de tudo o que escreve é dado pelo próprio Salomão, que diante da complexidade e dos paradoxos da vida, afirma: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos, porque é isto o dever de todo o homem”.

Especificamente, o capítulo 3 fala de uma abstração: o tempo, a qual tentamos domar quando marcamos a vida por ciclos e períodos que chamados de minutos, horas, dias, meses e anos. Hoje, pela convenção que adotamos, é o último dia do ano de 2010, no qual estamos nas últimas horas e minutos.

Todavia, nas Ilhas Kiribati no Oceano Pacífico, o ano novo já chegou a doze horas! Os fogos, as festas e os votos de feliz 2011 já foram dados e é possível que alguns já estejam até dormindo, enquanto nós ainda esperamos o ano chegar.

Sobre esta abstração chamada Tempo, Salomão, o homem considerado o mais sábio que já houve, inspirado pelo Espírito Santo afirma:

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de tempo de derribar e tempo de tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar tempo de abraçar e tempo de afastar-se de tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar tempo de rasgar e tempo de tempo de estar calado e tempo de tempo de amar e tempo de tempo de guerra e tempo de paz”.

Logo a seguir e no mesmo contexto, ele continua dizendo:
“Tudo fez Deus formoso no seu devido também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o principio até ao fim”

E arremata:
“Sei que tudo quanto Deus faz durará nada se lhe pode acrescentar e nada lhe tirar; e isto faz Deus para os homens temam diante dele. O que é já foi, o que há de ser também já foi. Deus fará renovar-se o que se passou”.

Tema: Atitudes para um Ano Novo Realmente Novo

1.Confiança na Soberania e na Bondade de Deus

A confiança encontra-se na certeza de que não é o tempo, nem o acaso que governam a vida, por mais que não encontremos frequentemente sentido nas coisas que acontecem conosco.

O texto afirma:
“Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o principio até ao fim”

Há um Deus no controle de tudo, porque Ele fez tudo “devidamente”, “apropriadamente”, “pertinentemente”.

Este senso natural de transcendência é tão humano, quanto é o senso de incompreensão diante da magnitude da vida.

Na revista Veja de 15/12 tem uma matéria na seção de astronomia com o título “O Mistério das Estrelas”, que trata da descoberta recente de que o número de estrelas pode ser o triplo do que se estimava, algo como 100 sextilhões ou 100000000000000000000000 (1 seguido de 23 zeros!).

Porém, o mais incrível é a chamada da matéria que diz assim: “O valor da descoberta de que o número de astros é o triplo do que se pensou até agora talvez seja a confirmação de que há um elemento além da compreensão humana em um céu estrelado”.

Na linguagem de Paulo no areópago de Atenas “Deus fez o mundo e tudo que o nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra (...) de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus, se porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós” (Atos 17:24,26)

O “elemento além da compreensão humana em um céu estrelado” é o Deus que já disse que as estrelas eram incontáveis.

Gerado a partir deste sentimento de transcendência surge o sentimento de dependência, descrito por Paulo assim: “pois nele vivemos e nos movemos, e existimos” e pelo próprio Jesus, o Filho de Deus, “sem mim nada podeis fazer".

Assim, meus irmãos, a primeira atitude é a da confiança num Deus soberano e altíssimo, mas não distante e indiferente. O Deus que se revelou em Jesus, o Emanuel, o Deus Conosco, de quem comemoramos o nascimento há poucos dias, é Deus presente, o Alfa que iniciou 2010 e o Ômega que o encerra daqui a alguns minutos.

Ele continuará sendo o mesmo Alfa que iniciará 2011 e, se vimos estivermos para ver, Ele que é Eterno também encerrará o ano de 2011, a não ser que a eternidade rasgue o tempo através do retorno de Jesus e sejamos convidados a viver plenamente a vida com Ele.

Se você quer um ano realmente novo, deixe-me lhe dizer o que poderá fazer um ano realmente novo: uma renovada confiança na soberania e na bondade de Deus para com você e para com toda a sua vida.

A segunda atitude é a

2.Indignação contra o que é realmente inaceitável

Muitos erroneamente entendem indignação como revolta, insubmissão. Mas o dicionário etimológico nos ajuda: “in-dignação é a atribuição que fazemos de que algo não é digno e portanto, não podemos

Há muitas coisas revoltantes e indignas na vida. As guerras entre nações que dizimam milhões de uma vez e as lutas cotidianas entre as pessoas por um lugar ao sol que matam também milhões, só que um de cada vez, nos seus sonhos, esperanças, desejos e expectativas deveriam nos dar motivos suficientes para indignar-se contra o próprio ser humano, responsável que é por seus atos.

Uns preferem transferir a culpa e vetorizam sua indignação para Deus, como se fosse possível atribuir a Deus aquilo que é responsabilidade exclusivamente nossa. Estes mesmos não trocariam jamais a liberdade que tanto valorizam para que Deus impedisse as pessoas tanto de fazer o que é errado, como de satisfazer os seus prazeres e desejos egoístas.

Hoje eu proponho que se você tiver de se indignar com algo ou com alguém, indigne-se com você mesmo! Indignar-se consigo mesmo não é um ato de auto-flagelamento emocional ou moral, mas uma atitude de procurar em si mesmo e não em outros, a responsabilidade das coisas.

Eu sei que há coisas das quais somos vítimas e não agentes. Não falo delas sobre as quais pouco ou nada podemos fazer ou evitar, mas falo de responsabilidade pessoal.

Indignemon-nos com aquelas coisas, sobre as quais efetivamente temos responsabilidade como agentes moralmente livres para fazer o que deve ser feito e não fazer o que não deve ser feito.

Convenhamos, muitas das dores, lutas e sofrimentos de 2010 foram causados por nós, seja porque fizemos o que não deveria ser feito, seja porque não fizemos, por irresponsabilidade, omissão ou negligência, o que deveria ser feito. Ficar procurando culpados é atitude infantil, improdutiva, inútil e injusta.

É preciso uma atitude de reconhecimento, de contrição, de quebrantamento, de arrependimento. Se preferirmos jogar para debaixo do tapete, por causa das emoções da chegada de um ano novo, as mesmas coisas que ao longo do ano evitamos enfrentar e tratar, então não há esperança para um ano realmente novo.

Ainda no Facebook, uma outra pessoa amiga disse que hoje era “o dia de abrir o envelope com os compromissos que havia feito no início de 2010”.

Eu li rapidamente e não entendi. Pensei que tinha errado o ano. Aí percebi que a pessoa havia feito compromissos, dos quais não tenho a mínima idéia, e colocado num envelope e agora estava na hora do “vamos ver o que consegui fazer”.

Acho uma boa idéia, porque há circunstâncias na vida sobre as quais não temos qualquer poder. São outros que decidem e nos afetam. Mas, como alguém já falou anteriormente "Se você continuar fazendo as mesmas coisas obterá sempre os mesmos resultados"

Indigne-se com você mesmo, mas não fique só nisto para não ser soterrado por sentimentos desanimadores.

Por isso, é preciso também a atitude de

3.Coragem para mudar e ser moldado por Deus.

Se você se indignar-se com o foco certo, então naturalmente você será tomado por uma coragem sobrenatural de mudar. Do seu interior, pelo Espírito Santo, que move toda e qualquer mudança real, verdadeira e positiva, sairá um brado: “Não dá mais! Não quero mais! Não agüento mais! É preciso mudar! Deus me ajuda a mudar!”

Sobre ter coragem para mudar, Salomão afirma:
“Quem somente observa o venho, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará. Semeia pela manhã a tua semente e à tarde não repouses a mão, porque não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas” (Eclesiastes 11:4,6).

Na meditação do boletim do primeiro domingo de 2011 falo de “Ser um vaso novo”, baseado em Jeremias 18, quando o profeta é enviado por Deus para aprender uma lição na casa de um oleiro.

Lá, ele viu um vaso sendo moldado, mas repentinamente o vaso se estraga na mão do oleiro e ele torna a faze dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu. Deus, então, usa da metáfora e pergunta a Jeremias: “Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro?”.

Observe que o vaso não foi descartado, jogado no lixo, desprezado. Foi do próprio barro estragado que Deus fez outro vaso. Outro no sentido de “diferente”, “de um tipo diferente”, “transformado”.

Nada vai mudar ao seu redor, se você não for o primeiro a ser transformado em 2011. Ele lhe quer diferente e é Ele quem faz isto, a partir de sua disposição e voluntariedade. Disponha-te como afirma a letra do hino com o qual encerraremos este culto: “Eu quero ser, Senhor amado, como um vaso nas mãos do oleiro. Quebra a minha vida e faze-a de novo. Eu quero ser, eu quero ser, um vaso novo”.

Sabe por que mudar não é apenas uma questão de emocionar-se num culto de fim de ano? Porque mudança é algo contínuo, que precisa de resolução, de desejo profundo movido por Deus que quer nos mudar. É preciso investimento, dedicação, porque Deus pode tudo que só Ele pode, da mesma forma que só você pode tudo que só você pode fazer!

Se for verdade que tudo que é fácil fazer é mais fácil não fazer – como tenho dito – então é preciso que você tenha uma atitude de coragem para mudar aquilo com o que você se indigna em si mesmo.

Se daquela atitude de indignação vier esta atitude de coragem de mudar, então, você começará a ver contextos, situações, circunstâncias... que você terá coragem também para envolver-se, para dar a sua colaboração, o seu envolvimento, sua participação, cumprindo assim a missão da sua vida, deixando sua marca na história e o legado para as próximas gerações.

Conclusão:

Você lembra que a pergunta a que nos propomos responder neste último sermão do ano foi “Como ano de 2011 pode ser realmente um Ano Novo?”

Vimos que são atitudes que podem garantir isto:
1.A atitude de confiança na soberania e na bondade de Deus.
2.A atitude de indignar-se contra o que é inaceitável, começando de nós mesmos.
3.A atitude de ter coragem para mudar e ser moldado como um vaso novo por Deus.

A última coisa, porém, que eu gostaria que você saísse daqui com ela é um sentimento de derrota, de pessimismo etc. É preciso ter clareza que tanto Deus, como você estão envolvidos neste grande desafio de vivenciar um ano de 2011 realmente novo!

Daí porque cabe tão bem encerrar esta Mensagem e este Ano de 2010 com a famosíssima Oração da Serenidade, escrita pelo teólogo protestante Reinhold Niebuhr que viveu de 1892 até 1971 e trabalhava no Union Theological Seminary, nos Estados Unidos da América.

"Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras".

Sunday, November 28, 2010

Lei da Homofobia


(editorial da Folha de São Paulo de 28/11/2010)

Legislação deve punir atos de discriminação contra homossexuais, mas precisa ser equilibrada para para não ferir a liberdade de opinião

Desde 2006 tramita no Senado Federal, depois de já aprovado pela Câmara, o projeto da chamada "Lei da Homofobia", criminalizando atitudes resultantes de "preconceito de sexo, orientação sexual e identidade de gênero".
A polêmica em torno do assunto ganhou intensidade nas últimas semanas. Houve, em primeiro lugar, as justificadas reações de choque e de repúdio diante dos recentes casos de agressão, supostamente por preconceito antigay, de jovens na avenida Paulista. Pressionar pela aprovação da Lei da Homofobia surge, assim, como forma de dar vazão institucional às condenações que o episódio justificadamente suscita.
Reações contrárias ao projeto, contudo, surgem nos setores religiosos, que contam com a crescente influência da bancada evangélica para barrar a iniciativa.
Nos dois lados do debate, há quem se veja vítima de censura e preconceito. O direito constitucional à liberdade de expressão e consciência, sem dúvida, é um dos valores que cumpre reiterar na análise do assunto.
Na verdade, a chamada Lei da Homofobia constitui-se de uma ampliação, no que diz respeito à orientação sexual, de um texto em vigor desde 1989, punindo atos e manifestações de preconceito racial. Trata-se de uma espécie de reforço a direitos de grupos que já encontrariam proteção na Carta e em códigos vigentes.
Há um risco potencial de que a aplicação dessas legislações fira o princípio da liberdade de expressão, embora não conste que ele tenha sido, até aqui, afrontado.
Do mesmo modo, espera-se que ninguém estará impedido pela nova lei de considerar o homossexualismo atentatório aos mandamentos de Deus; até a Bíblia teria de ser censurada, nesse caso.
Depende do bom senso do Ministério Público e da magistratura a aplicação adequada da lei. Há de se considerar, ademais, o excessivo rigor nas punições, que chegam a vários anos de cadeia, em casos que não são de violência física -quanto a estes, sempre foram coibidos pelo Código Penal.
A aplicação sensata da lei, tal como foi redigida, ou a busca de um acordo razoável em torno de possíveis modificações em detalhes do texto, evitariam os inconvenientes reais ou imaginários que se antepõem à sua aprovação.
Mas o bom senso e o equilíbrio são, sem dúvida, as primeiras vítimas quando está em jogo, mais uma vez, a explosiva mistura de sexualidade e religião. Dessa verdadeira neurose do mundo contemporâneo, o Brasil tem-se saído razoavelmente bem, dada a autoimagem, nem sempre confirmada na prática, de tolerância que cultivam seus habitantes.
É essencial preservá-la; mas, a julgar pela celeuma com relação ao projeto, e pelos recentes casos de perseguição a homossexuais, o espectro da intolerância resiste e se renova sem descanso.

Friday, October 22, 2010

ALMAS PERFUMADAS

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda. De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede
que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce
que tem pra escolher. O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende a ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal
do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu
e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que as gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume
que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa
só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus
está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.

Costumo dizer que algumas almas são perfumadas,
porque acredito que os sentimentos também têm cheiro
e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia.
Você conhece alguém assim?
Que perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores.
E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado, que mudou de frasco,
mas continua vivo no coração de tudo o que ele amou.
E tudo o que amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de pessoa para me falar de amor.

CARTA ABERTA AOS PASTORES DE DEUS


Por um pedaço de pão e uma xícara de café


Eles até que demoraram muito a aparecer nesta temporada eleitoral. Tão previsíveis como os debates na TV e as baixarias para atingir os adversários, os famosos cafés da manhã de candidatos com pastores e lideranças evangélicas mantiveram seu lugar de primazia entre os meios preferidos de comunicação dos políticos com o povo de Deus.

São baratos, junta gente e é confortável para quem fala calar pelo monólogo os muitos que apenas ouvem. Até parecem uma peste daquelas que a gente pensa que se livrou para, infelizmente, dois ou quatro anos depois – dependendo do calendário eleitoral – aparecer de novo.

Nunca vi café da manhã para pastores em meio de mandato ou antes do Prefeito ou Governador mandarem algum projeto de lei para a Assembléia ou para a Câmara! Até que eles aparecem na época do Natal, mas só no Natal imediatamente anterior à próxima eleição.

Recentemente, fui convidado a participar de um. Aceitei relutante lembrando do último no qual estive há 10 anos e do qual muito me arrependi. Resolvi dar uma chance a quem me convidava e só impus duas condições, pensando eu que o modus operandi dos tais cafés teria mudado depois de tanto tempo.

Disse-lhe que não aceitaria fotografias e filmagens a serem colocados no guia eleitoral sob o título “Pastores apóiam fulano de tal” ou “Evangélicos estão com sicrano de tal” e também que gostaria de interagir com o candidato num colóquio respeitoso, sério e honesto sobre seus pensamentos e propostas.

Visivelmente constrangido o político de tempo integral e “irmão-de-domingo-sim-domingo-não”, ponderou que não controlava estas coisas, mas faria estas observações ao pessoal da campanha e blá-blá-blá.

Fui e me arrependi novamente por meu ledo engano: como participar se tinha uma multidão de pastores, evangelistas, missionários, proto-bispos, apóstolos, dirigentes de círculo de oração, presidentes de denominação, chefes disto, caciques daquilo...? Muitos – com algumas honrosas exceções – ávidos por um beija-mão, apenas. Na verdade, não consegui nem agüentar até o fim.

Ainda bem que, precavido, tomei café em casa, pois até hoje não entendo porque chamam “aquilo” de café da manhã se o político só aparece lá pelas 10 da manhã, enquanto pobres mortais claramente chamados de desocupados pelo descaso da “ótoridade” já o esperam entre bolachas cream-cracker e goles de café desde antes das 8 horas, que seria o horário supostamente marcado para o início.

Cheguei até a pensar numa época dessas que os políticos faziam isto de propósito, tanto para que uns pobres morta-fome pudessem se saciar com as “finas iguarias do rei”, enquanto esperavam o prato principal, como para que, uma vez o auditório lotado, pudesse o candidato chegar com pompa e circunstância, coisa que alguns pastores-estrela e seus asseclas gospel também fazem com esmero, especialmente para dar a impressão de que são executivos da fé sempre muito atarefados com os negócios do Reino.

Todos a postos, começa o culto. Ops! Culto? Pois é, crente tem essa mania. Tudo que faz tem que parecer culto. Se for festa , tem que ser culto-festa. Se for evento político, tem que ser comício-culto ou vice-versa, sei lá! O fato é que um sujeito barrigudo – político por in-vocação e pastor de profissão – começa o culto com uma oração, logo seguida de louvores – mal acompanhados por uns poucos mais fervorosos e displicentemente ignorados pela maioria mais interessada em conversas amenas com os colegas e conchavos políticos intra e extramuros.

Minha paciência se esgota completamente quando uma irmã “candidata-derrotada-a-não-sei-o-quê” é chamada para um louvor especial e resolve “dar uma palavra” para o candidato, afirmando, sabe-se lá com a autorização de quem – a minha, eu certamente não dei! –, que “estamos aqui para lhe dizer Fulano que estamos com você nesta eleição”.

É o fim da picada! Levanto-me, saio junto com alguns poucos “mais sensíveis” e deixo o meu lugar marcado para o próximo café da manhã daqui a.... 20 anos, tá bom?

Esta minha forma meio zangada, meio irônica de narrar o ocorrido mal encobre um profundo sentimento de mal estar e vergonha que sinto quando vejo mais uma vez o povo de Deus trocando seu direito de primogenitura por um pedaço de pão e uma xícara de café.

Refiro-me à maneira como somos, por um lado, amadores e por outro lado, interesseiros, no processo eleitoral e na participação política em geral.

Muitos vão, no máximo, ao ponto de debaterem se o candidato é crente ou se alguém já o viu disfarçadamente fazendo o sinal da cruz em algum culto especialmente convocado para “apresentar o amigo do evangelho” e cabular alguns votos do seu curral eleitoral mal travestido de congregação.

Ultimamente, chegamos ao disparate de perder tempo e energia, além de passar recibo de ignorantes e de intolerantes para todo o mundo, questionando se o sujeito mandou fazer estátuas de demônios em encruzilhadas da cidade ou se ele é ateu, agnóstico ou algo assim, “esotérico-pós-moderno-pluralista-inclusivista”.

Nesse processo, demoniza-se o que for mais à esquerda da escala da ortodoxia, e santifica-se o outro mais à direita, porque se tem uma coisa que os “evangélicos” (Argh!) gostam de fazer é manter o status quo.


Outros – os interesseiros – com um olho nas pesquisas, e outro nos seus interesses paroquianos, pendem para um lado ou para o outro, já pensando naquele “convênio social” com o governo, ou com aquela área destinada a equipamento comunitário ou de reserva verde pronta para ser, casuística e ilegalmente, revertida para “aquele projeto ma-ra-vi-lho-so que vai abençoar muita gente!”

Fecha-se os olhos convenientemente para o passado de um, arregala-se os olhos inquisitorialmente para o do outro.

Nada de debates de idéias, nada de propostas de políticas públicas. Nada de questionamentos sobre o bom uso dos recursos do município ou do estado, nada de participação civil não partidária, nem eleitoreira.

Ah! Triste povo de Deus de tão saudosa e gloriosa história profética, hoje servindo de massa de manobra do Egito contra a Assíria, ou da Assíria contra o Egito, ambas “canas fumegantes prontas a se quebrar”. Onde estão os profetas de Deus diante de quem os reis tremiam ao abrir de suas vozes convocando-os ao que é reto e justo?

Viraram cachorrinhos mansos, comedores de migalhas de pão nas cozinhas dos mandatários de plantão!

Basta! É preciso que nos respeitemos para ser respeitados. É preciso que façamos valer a nossa voz profética tronituando por justiça social, por respeito a princípios de respeito à liberdade religiosa, à família, à separação Estado-Igreja etc, que construíram a nossa civilização ocidental e particularmente, o nosso país.

É preciso que nos façamos respeitar não pelos números grandiosos e superestimados – diga-se de passagem – da membrezia de nossas igrejas, as quais são inflacionadas seja para massagear o ego dos nossos líderes megalomaníacos, seja para disfarçar que grande parte dos arrolados estão também arrolados em outras comunidades.

Protestantes não têm papa. Logo, não tem quem fale em nome “dos evangélicos” ou “dos pastores”. Somos um movimento de homens livres em Cristo, sacerdotes de si mesmo diante do Trono do Único Soberano, em cuja direita senta o Sumo Sacerdote da nossa confissão.

Deixemos de ser risíveis, tolos. Deixemos de ser espertos, desprezíveis.

Façamos Política com ”P Maiúsculo”, discutindo interesses do povo em geral e não apenas dos nossos guetos religiosos.

Façamos Política com “P Maiúsculo”, pressionando autoridades, por quem também devemos orar, com o objetivo de fazê-las ouvir a Igreja, consciência do Estado, em tempos de eleição e, principalmente, quando no exercício do mandato que lhes outorgamos pelo voto.

Separemo-nos do furor policandis, do afã ambicioso da sala do trono, e estejamos na rua servindo em nome do Rei. Temos quadros nas nossas comunidades para servir ao Estado? Temos espaços nas nossas instalações para servir ao povo? Então nos ofereçamos como o samaritano do caminho ou como o estaleiro que recebe o moribundo com fome e sede de justiça.

Façamo-nos representar como segmento importante da sociedade não através de cargos comissionados que calam a nossa boca, mas por meio de representantes dos nossos anseios, valores, crenças e princípios. Não somos melhores, nem piores do que qualquer outro segmento social. Não queremos privilégios, mas também não nos submeteremos a discriminações ou exclusões, de quem nunca dialogou conosco e só nos procura quando precisam do nosso voto.

Unamo-nos em torno de pessoas cujo perfil e história de vida se credenciem por si mesmas, evitando que candidaturas independentes do crivo do povo de Deus através daqueles chamados para supervisioná-lo, não sejam múltiplos e concorrentes projetos personalistas de alguns sujeitos que não deram prá nada e aí “tiveram uma revelação” que Deus está lhes chamando para ser vereador, deputado... Já não nos bastam o que se dizem “evangélicos” (Argh!) e nos envergonham com uma vida moral dupla, com posturas vendidas a interesses pessoais inconfessáveis?

Respeitemos os nossos púlpitos de onde deve emanar a Palavra de Deus, santa e verdadeira, para a pregação do Evangelho de Jesus e só. Não os ofereçamos para qualquer filho de Belial, soprado por algum ponto eletrônico de um marketeiro qualquer, falar “amém” e “aleluia”, a fim de passar por irmão na fé e enganar os incautos.

Respeitemos o povo de Deus. Eles já não nos respeitam como outrora, porque não temos sido como o Bom Pastor que vendo o lobo o afugenta. Muitos têm aberto a porta do aprisco para os lobos-candidatos-vestidos-de-ovelha tomarem o melhor do rebanho, que não é a lã do voto, e sim a singeleza da confiança que têm em nós, seus pastores.

Finalmente, arrependamo-nos diante de Jesus, a quem iremos prestar contas do nosso ministério. É a Ele que devemos temer, porque “antes importa obedecer a Deus que a homens”.

Que Deus tenha misericórdia de sua Igreja e da nossa Paraíba. Votemos com a nossa consciência. Quem ganhar receberá mais do que um mandato de todos. Receberá também as orações e o apoio de quem quer servir a Deus e ao próximo.

Porém, não receberá um cheque em branco para fazer o que quiser. Sejamos vigilantes e não negociemos nem a fé, nem os nossos princípios.

Seu conservo pastor, com humildade e temor,

Robinson Grangeiro Monteiro
Ministro Presbiteriano

Saturday, October 16, 2010

PANORAMAS POLÍTICO-RELIGIOSOS NO 2O TURNO


Introdução:

Recentemente, recebi email de um nobre colega pastor, cujos anexos incluíam a "Carta da Candidata Dilma Housseff aos Cristãos", que pode ser encontrado facilmente na internet e um outro texto intitulado “Reflexões Sobre Eleições, Cidadania e Fé”, o qual não tenho autorização para transcrever na íntegra neste espaço.

Abaixo, transcrevo meus comentários, adaptando-os ao contexto de um texto aberto à consulta pública, procurando preservar identidades e aspectos pessoais.

Sobre a Carta da Candidata Dilma, TEÇO OS SEGUINTES COMENTÁRIOS E ELABORO AS SEGUINTES QUESTÕES:

1.Considerando que a candidata é “pessoalmente contra o aborto” e que “defende a manutenção da legislação atual sobre o assunto”, (Ítem 2) POR QUE, além de “não propor alterações de pontos que tratem da legislação do aborto e de outros temas concernentes à família e à livre expressão de qualquer religião no País” (Ítem 3), TAMBÉM NÃO SE COMPROMETE a orientar a sua base de apoio parlamentar no Congresso – que será majoritária nas duas casas – neste mesmo sentido?
Por que TAMBÉM NÃO SE COMPROMETE até mesmo a vetar, nos termos da lei, qualquer lei aprovada pelo Congresso que contrarie esta posição pessoal e institucional assumida por ela?
Obviamente que, depois de eleita, a candidata Dilma poderá até não propor mudanças na legislatura, mas poderá muito bem liberar qualquer congressista de sua base parlamentar a fazê-lo, a fim de depois alegar que não tomou a iniciativa e que precisa respeitar a vontade do Congresso, não usando assim a força política para barrar os projetos de lei nas comissões e no plenário das duas casas, além de não usar o instituto do veto presidencial como o próprio presidente Lula já usou recentemente.
Sabemos que o veto tanto pode ser jurídico quando for comprovada sua inconstitucionalidade, como político quando for comprovado o interesse contrário ao do povo (nação).
Sabemos que o Presidente da Republica tem poder de veto total ou parcial sobre um projeto de lei, comprovando sua justificativa de veto. E apesar de o Presidente não ter poder absoluto, podendo as casas revisoras concordar ou rejeitar o veto, a maioria absoluta exigida pela Constituição para derrubar o veto, obviamente tornaria a aprovação da lei muito mais improvável.

2.Considerando que a candidata Dilma pretende "editar leis e desenvolver programas que tenham a família como foco principal" (Ítem 6) de onde se conclui que ela tem pleno conhecimento das questões importantes para a preservação do núcleo familiar, POR QUE NÃO EXPLICITA quais "iniciativas que afrontam à família no PNDH3", que estariam sendo revistas?
Por que a candidata NÃO SE COMPROMETE, se eleita, a excluí-las liminarmente do PNDH3, chamado de uma “ampla carta de intenções”?
Se é apenas uma "carta de intenção", por que dar a importância a ponto de admitir que está sendo revisto? Se não é apenas uma carta de intenção - como é o mais provável - então, por que não explicitar o que está sendo revisto e por quais razões?
É notório que a candidata mudou de opinião sobre temas importantes para nós cristãos e embora lideranças do PT afirmem que isto representou uma “evolução” das opiniões da candidata sobre estes assuntos, que garantias há que não haverá um retrocesso pós-eleição?
É preciso mais do que uma carta genérica escrita para “pôr um fim definitivo à campanha de calúnias e boatos espalhados por meus adversários eleitorais”, o que dito assim, por si mesmo já apontaria uma serventia eleitoral ao documento.


Sobre seu documento “Reflexões Sobre Eleições, Cidadania e Fé”, CONSIDERO DE BOM ALVITRE TODA INICIATIVA DE DISCUSSÃO LIVRE E DEMOCRÁTICA SOBRE POLÍTICA, mas entendo que:


1.Considerando ser um documento com o “propósito de contribuir, como cidadão” e como “uma reflexão de um cristão que deseja contribuir com o exercício da cidadania e não como uma palavra de orientação pastoral”, ENTENDO QUE O COLEGA NÃO DEVERIA TER ASSINADO NA CONDIÇÃO DE PASTOR PRESBITERIANO, nem muito menos tendo a subscrição “Igreja Presbiteriana do Brasil”, porque o irmão nem fala em nome da igreja que pastoreia, a não ser que exista documento do Conselho autorizando-o a pronunciar-se assim, nem em nome do Concílio, além de não falar, obviamente, em nome da Igreja Presbiteriana do Brasil, múnus restrito ao Supremo Concílio da IPB.
Entendo que é tênue a fronteira entre sua cidadania e seu pastorado – encontro-me na mesma situação – e por isso, ao posicionar-me no 1º turno em favor da candidatura de Marina fiz questão de afirmar e escrever em alto e bom som que o fazia na condição de “cidadão brasileiro”, respeitando assim a ideologia e convicções políticas dos meus colegas pastores, das minhas ovelhas e a isenção institucional da Igreja Presbiteriana do Brasil.

2.Considerando que, conforme você escreve, “os evangélicos estão mandando para os partidos e para os políticos o ‘recado’ de que os cristãos precisam ser ouvidos”, CONCORDO PLENAMENTE com seu pensamento de que é “um ponto positivo de afirmação da inserção cristã evangélica no debate político nacional e que atualmente pode ser observada”, ainda que esta “inserção da voz evangélica no debate eleitoral ainda é feito com amadorismo e imaturidade.”
Entendo que cidadania e democracia se aperfeiçoam pela prática e, portanto, acolho com alegria e esperança a participação de tantos cristãos, especialmente os jovens, neste processo eleitoral, esperando e orando para que após a eleição este ímpeto não seja arrefecido, visto que o remédio para a má política é a boa política e não a omissão política.

3. Considerando que, muitos cristãos – não todos, certamente – “labutam em equívoco quando querem exigir dos candidatos que procedam como se fossem portadores da mesma fé que os evangélicos abraçam e procuram honrar” e que “não é correto e até sensato ‘satanizar’ candidatos para justificar a rejeição pessoal a qualquer deles” e que também erram “quando participam, por exemplo, da proliferação de mensagens via internet que buscam desqualificar candidatos e partidos”. CONCORDO PLENAMENTE com seu posicionamento de que “não havendo um candidato evangélico que inspire confiança pela qualidade do compromisso de fé que possui e pelo projeto que tenha a oferecer, o eleitor evangélico deve escolher um nome que, mesmo não professando a mesma fé, apresente um projeto consistente e confiável, que promova o bem e a justiça em favor de todos os cidadãos. Não deve interessar aos cristãos os governantes que lhes garantam privilégios, mas sim os que assegurem os direitos sem distinção”.
Lamento que este “candidato evangélico que inspire confiança pela qualidade do compromisso de fé que possui e pelo projeto que tenha a oferecer” existisse concretamente na pessoa da nossa irmã e ilustre senadora Marina Silva, a qual não recebeu o apoio necessário importante de tantos líderes, como nós pastores, que há décadas oram pelo país, especialmente para que Deus levante autoridades tementes a Deus para dirigir o Brasil.
Todavia, tenho certeza de que, em 2014, a oportunidade será renovada, bem como em 2012, nas eleições municipais, razão pela qual já oro e me mobilizo para que a defesa de um país que avance para uma democracia plena através de práticas políticas sadias - enterradas por aqueles que nos disseram antes que a esperança tinha vencido o medo - concretize-se num desenvolvimento sustentável e em justiça social ainda maior.

4. Considerando que, no mérito do documento – sua opção pela candidata Dilma – não há o que comentar, visto que é uma posição pessoal, ideológica, na condição de militante do Partido dos Trabalhadores que você é há muito tempo, e que junto com você há lideranças neopentecostais significativas como, dentre outros, Edir Macedo, bispo presidente da Universal do Reino de Deus, a quem a candidata Dilma destinou sua carta, DEFENDO FERREAMENTE O SEU DIREITO DE PRONUNCIAR-SE POLITICAMENTE como manifestação cidadã no pleno estado de direito em que estamos e por isso, agradeço a oportunidade de repercutir o documento que me enviou.

Com os melhores votos de apreço e consideração e no espírito e propósito comuns de orar pelas autoridades constituídas por Deus e ser, como Igreja, pastores e cristãos, a consciência do Estado, despeço-me.

Fraternalmente,

Robinson Grangeiro Monteiro

Tuesday, September 28, 2010


CENÁRIOS POLÍTICOS NA CAPITANIA HEREDITÁRIA DA PARAHYBA
Alguns, talvez estimulados pelo meu apoio público a #Marina43, pediram para que eu fizesse o mesmo em relação a candidaturas na Paraíba.

Tenho dificuldades em atender este pedido e explico as minhas razões:

1. Diferentemente, da eleição para Presidente, não vejo no cenário estadual qualquer nome para Governador que apresente oportunidade de mudança real para o Estado.
Não é nada pessoal. É opinião política mesmo. São caciques políticos que se alternam no poder nas últimas décadas. E até quem representava o novo há pouco tempo, hoje faz parte de um dos esquemas e já se locupletou e foi domesticado.
Há aspectos positivos e negativos nas candidaturas de Maranhão e de Ricardo, mas nada que me atraia a votar e trabalhar em favor de eleger qualquer um deles.
Sinceramente, até nem sei ainda em quem votar. Talvez faça por eliminação, retirando quem é pior, primeiramente, e assim sucessivamente.
Entre os partidos menores, o radicalismo e o exotismo dos candidatos certamente depõe contra eles, no que se refere às minhas convicções religiosas e políticas.

2. Em relação aos candidatos ao Congresso Nacional - Senadores e Deputados Federais - a amplitude da importância da escolha é proporcional à relevância dos temas que estes homens e mulheres decidirão durante os seus mandatos.
Por isso, tão importante como saber quem é "amigo do rei ou da rainha" e quem teve ou tem mais poder para trazer recursos a ser investidos no estado da Paraíba, é necessário entender os valores, as crenças e as atitudes destes candidatos em temas polêmicos no campo da ética (união civil de pessoas do mesmo sexo, descriminalizaçao do aborto e do uso da maconha, liberdade de expressão e de crença etc.), no campo da política (reforma política, sistema eleitoral, financiamento de campanha etc.), no campo da economia (reforma previdenciária, tributária, trabalhista etc.).
Estas informações estão disponíveis em bancos de dados dos principais órgãos da imprensa, nos arquivos do congresso etc. Consulte-os. Não queira a informação já mastigadinha. Cidadania é participação pessoal e instransferível.
Particularmente, tenho inclinação para rejeitar quem teve mandato e oportunidade para fazer e não fêz nada; quem teve mandato e oportunidade para fazer e fez o que é errado, vergonhoso e contrário aos interesses da Paraíba, quem enriqueceu "miraculosamente" fazendo "carreirismo político" e assim por diante.
Tenho dificuldades também em quem é candidato porque faz parte de oligarquias familiares que precisam se manter no poder ou retomar o poder, quem se autodenomina representante deste ou daquele segmento da população, inclusive dos que fazem mau uso da fé e da religião, seja ela protestante ou evangélica, para angariar votos dos incautos ou dos interessados em benefícios corporativistas.
Faço oposição particularmente a quem exibe valores, crenças e atitudes contrárias a princípios bíblicos, porque sei que: quem você é e aquilo em que você acredita influencia o que você faz, privativa e publicamente. Um homem ou mulher que não teme a Deus na hora de decidir não terá o estôfo espiritual e moral de suportar a oposição às suas idéias numa sociedade cada vez mais anti-tudo-que-é-deus-ou-religião.
Com a mesma veemência rejeito que ser religioso é garantia de exercer um mandato com dignidade e eficiência. É preciso que o sujeito além disso, seja honesto, bem articulado, tenha competências pessoais e políticas para entender a realidade do país e do Estado e compromisso com o que for melhor para a maior parcela da população, mesmo que venha a desagradar ou prejudicar alguma minoria, se isto for inevitável.
Assim, ser cristão não é garantia de ser um bom político. É preciso que seja um cristão político mais do que um político cristão.
Por isso, decidi votar em candidatos que conheço pessoalmente e, mesmo não tendo nenhum de quem privo de intimidade, terei acesso suficiente para dizer verdades e cobrar posicionamentos coerentes. Desta forma, meu voto não serve para ser seu voto, porque quem eu conheço neste nível, talvez você não conheça e vice-versa.

3. Finalmente, a escolha de deputados estaduais da Paraíba precisa ser feita de modo a libertar o Estado de rinhas de galos representadas por interesses mesquinhos de grupos num estado tão dependente de políticas públicas estruturantes.
Neste quesito, gostaria muito de ver uma Assembléia Legislativa em que o futuro governador não tivesse a maioria dos deputados para forçar os agentes políticos a debater idéias e não conchavos, evitando-se tanto o rolo compressor de uma maioria cega, como as traições oportunistas.
Assim, veja quem estava de um lado e correu para o outro quando foi conveniente. E também quem abre os braços para receber traidores. Eles se merecem e não merecem nem o meu, nem o seu voto. Cobeligerância política é o que permite gente que pensa diferente pontualmente se aliar para causas comuns para o bem do povo. Oportunismo político é falta de caráter e defesa de interesses políticos que beneficiam pessoas, famílias e grupos políticos.
Observe quem é filhinho de fulano, primo de sicrano, irmão ou mulher de beltrano e por isso, acha que tem cadeira cativa na Assembléia. Vote em idéias e histórias de vida. Um bom termômetro é que um bom vereador quase sempre se torna um bom deputado. Veja, então, quem já exerceu mandato como vereador, como foi a atuação e dê a oportunidade dele ampliar sua atuação política.
Porém, não descarte "novatos" em eleições, desde que não sejam novatos na atuação política em suas áreas de atuação profissional. Gente que se legitima pelo que já fez quando ainda não era deputado se credencia para continuar fazendo como deputado. Evite os exotismos dos tiriricas locais ou daqueles que podem até ser sujeitos interessantes para a mídia, mas não para o trabalho de ser agente público.
Finalmente, não se encante com os perfis cor-de-rosa do guia eleitoral ou meios de comunicação estadual. Grande parte da imprensa é tendenciosa, vive de favores políticos, anúncios pagos e notícias plantadas para favorecer este ou aquele. Desconfie a quem interessa determinada notícia negativa sobre algum candidato.
Particularmente, usarei estes critérios para escolher meu deputado estadua. Gostaria de ver alguém de João Pessoa eleito deputado estadual. Campina Grande, minha cidade natal, já está muito representada. As várias regiões do Estado também. E João Pessoa? A capital para onde e por onte todo o progresso do Estado acaba passando.

Conclusão: se você esperava nomes, desculpe por decepcioná-lo. Não os tenho e até acho que é bom para você aguçar o seu senso de cidadania e de atuação política. No mais, se você for cristão e crer no Deus que está no trono e que a tudo controla, ore, ore, ore, ore muito por estas eleições.

Um abraço,
Reverendo Robinson Grangeiro Monteiro
Um cidadão brasileiro e paraibano

Tuesday, April 13, 2010

Perdas e Ganhos... De novo!

Nestes últimas tempos tenho vivido uma série de perdas.
Perdi toda minha produção acadêmica e ministerial dos últimos anos porque meu HD externo foi irreparavelmente danificado e meus arquivos originais já tinham sido perdidos quando meu notebook de trabalho “deu pau” na placa mãe.
Perdi meu relógio, meus óculos Ray Ban, meu celular e o chip com toda a minha agenda de telefones – comprei outro e já perdi o celular e o chip novos de novo anteontem – e isto é apenas uma pequena lista de um ano que começou no primeiro dia de 2010 com a perda de R$50 que carregava no bolso para comprar pão.
Sim! Semana passada, depois de danificarem o trinco da porta do carro, roubaram também os documentos do meu carro, o estepe, minha caixa de ferramentas americana que meu irmão Fabio me deu de presente e até o óleo de unção que carrego comigo... A Biblia ficou, infelizmente!
Enfim, perdi muitas pequenas coisas, outras importantes e algumas poucas insubstituíveis. Coisas se perdem. Outras “coisas”... Ah! Estas nos são arrancadas pela vida.
Por que estou compartilhando isto tudo que pode lhe parecer tão prosaico e tolo? Porque quero lhe dizer que tudo isto não é nada diante de quem perdeu tudo e todos no Morro do Bumba em Niterói.
Ali tem gente que perdeu pai, mãe, mulher, filhos, irmãos, tios, sobrinhos, avós, netos... Casa com tudo dentro, documentos, fotografias, objetos de carinho e apreço que faziam parte da vida das pessoas, do que elas eram. Gente que perdeu fé, esperança, amor, dignidade, segurança...
A sensação de perda é esquisita. A gente fica “procurando” o que perdeu em cada canto, fresta, horizonte. É como se estivesse presentemente ausente. Não se enterra o que se perdeu. Não se tem o direito de se despedir com dignidade e de chorar o luto e, consequentemente, a vida parece que trava e não se pode prosseguir.
Toda vez que ponho um dos outros meus dois relógios, lembro daquele que perdi. Toda vez que saio pela manhã de casa e o sol me castiga os olhos, lembro dos óculos.
Toda vez que penso em ligar a alguém e não sei o número, lembro do celular. Toda vez que vou entrar no carro pelo meu lado e enfio a chave, percebo que tenho que abrir pelo outro lado e fazer uma manobra incômoda.
Toda vez que vou preparar um sermão, um artigo de boletim, ou fundamentar algo dos meus estudos acadêmicos, lembro do que já tinha escrito, que já tinha produzido algo que poderia calhar tão bem naquele momento.
Todavia, eu tenho mais dois relógios – e apenas dois braços também! –, daqui a pouco vou poder comprar outros óculos escuros, consertar o carro, repor o estepe e o emplacamento 2010 vai tornar dispensável o documento 2009 e assim por diante. Já o que foi perdido na avalanche de lama e lixo nunca mais volta...
No capítulo 13 de Mateus há três parábolas conhecidas como “Parábolas do Reino” porque salientam aspectos do Reino de Deus trazido por Jesus em suas palavras e obras: as parábolas da ovelha perdida, da dracma perdida, do filho perdido.
O que há de comum entre elas? A alegria de ter, a dor de perder e a satisfação ainda maior de reaver! De alguma forma, é como se Jesus dissesse que um dia o homem teve o reino, perdeu o reino e através dele, pode reaver o reino.
No entanto, fala também de todas as nossas outras perdas. Todas? Sim,mesmo aquelas que chamamos de irreparáveis. Claro que aqueles que perdemos para a morte, não voltam. Pelo menos, não antes da ressurreição final e do nosso reencontro no céu, o que só faz sentido para quem crer nesta promessa de Deus.
Até mesmo as pessoas “voltam”, quando a dor e o sofrimento nos ensinam a difícil e lenta lição de ressignificar cada uma delas para a vida poder continuar. Jamais são substituídas, nem trocadas, mas de alguma forma elas “voltam”. Não é fácil, mas é possível, se o ponto de partida for compreender que no útero de cada perda, há gestação de um ganho.
Os braços podem não mais abraçar, os lábios já não se tocam. A saudade é imensa. Não se tem mais por perto, mas se aprende a reencontrar e relembrar o que de bom ficou quando se decide esquecer o que de ruim se viveu.
Eu já nem gostava mais daquele modelo de óculos... Meu relógio estava até bem arranhado... Alguém que achou os R$50 deve ter achado que começou o ano muito bem... As estratégias são variadas, mas nossa mente sempre dará um jeito de ressignificar as perdas, mas não é apenas disso que falo quando menciono os ganhos embutidos nas perdas.
Falo de tirar lições, questionar valorações, repensar prioridades que escolhemos, compreender gente com quem convivemos etc., porque se há algo na vida que é dolorosamente maravilhoso é que muitos recomeços surpreendentes só acontecem depois de dolorosas perdas.
Poderia ser diferente, mas não é, porque a gente não controla a vida. Ao sabor de perdas e ganhos ela segue seu fluxo e nós com ela: “Deixa a vida me levar....”
Com carinho,
Robinson