Friday, December 31, 2010

Minha Última Mensagem de 2010

Introdução:

Pense numa coisa difícil é encontrar alguém com uma mensagem diferente de “Feliz Ano Novo”. Seja em alguma rede social como Orkut, Facebook ou Twitter, seja em contatos pessoais, todos nós acabamos nos repetindo através de chavões ditos e reprisados de anos anteriores.

•“Muita saúde e paz!”
•“Próspero ano novo!”
•“Muita saúde e dinheiro no bolso!”
•“Tudo de bom!”
•“Que seus sonhos se realizem!”
E assim vai.

Não é bem “culpa” nossa. De fato, temos a intenção mesmo de que coisas boas aconteçam quando manifestamos os nossos votos. E, via em regra, o que desejamos é realmente o mais importante: saúde, paz, alegria, realizações etc.

Mas, o problema é quando pensamos:

“E como isto tudo pode REALMENTE acontecer,
de modo que o ano de 2011 seja REALMENTE NOVO?”.

Acho que, meio sem querer que fossem votos de feliz ano novo, vi postado no Facebook uma mensagem de um amigo que tomei como votos de feliz 2011 e dizia assim:
“A esperança tem duas filhas lindas, a Indignação e a Coragem: A Indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão e A Coragem, para mudá-las.”

Eu completei em resposta ao post dizendo que se é verdade que a esperança tem duas filhas chamadas indignação e coragem, eu afirmo que “elas nascem de uma mãe generosa: A Confiança no Deus que a tudo controla e nos faz instrumentos dEle para a mudança.”


Elucidação:


O texto que lemos faz parte de Eclesiastes 3, o livro que o sábio Salomão escreveu e que é considerado um dos mais complexos, principalmente por seu conteúdo aparentemente pessimista.

Na verdade, o livro todo trata da vaidade da própria vida. Vaidade não apenas no sentido de ostentação de aparência, de presunção, mas principalmente no sentido do próprio vazio e ausência de sentido e de propósito em muitos aspectos e momentos que passamos na vida e que nos fazem perguntar: “Por que isto acontece? Com que propósito?”

Salomão escreve Eclesiastes nos últimos anos de sua vida, cheia de aventuras, de sensações, de atos piedosos e muita expressão de sabedoria de Deus e, ao mesmo tempo, de muitos erros e atitudes contraditórias. Ele olha para trás para sua própria vida e faz perguntas difíceis, do mesmo jeito que, em proporção menor, também estamos hoje olhando para 2010 e nos fazendo também questionamentos sobre o porquê das coisas.

Ele havia escrito o livro de Provérbios, ensinando o bem viver em todos os aspectos da vida, e Cantares, enaltecendo o amor erótico por sua mulher sunamita, vista também como uma alegoria sobre o amor de Deus por seu povo. Agora, longe do vigor e do idealismo da juventude, derramava a sua angústia.

Mas, não é na angústia que Eclesiastes esgota a sua essência, mas no temor a Deus, pois o resumo de tudo o que escreve é dado pelo próprio Salomão, que diante da complexidade e dos paradoxos da vida, afirma: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos, porque é isto o dever de todo o homem”.

Especificamente, o capítulo 3 fala de uma abstração: o tempo, a qual tentamos domar quando marcamos a vida por ciclos e períodos que chamados de minutos, horas, dias, meses e anos. Hoje, pela convenção que adotamos, é o último dia do ano de 2010, no qual estamos nas últimas horas e minutos.

Todavia, nas Ilhas Kiribati no Oceano Pacífico, o ano novo já chegou a doze horas! Os fogos, as festas e os votos de feliz 2011 já foram dados e é possível que alguns já estejam até dormindo, enquanto nós ainda esperamos o ano chegar.

Sobre esta abstração chamada Tempo, Salomão, o homem considerado o mais sábio que já houve, inspirado pelo Espírito Santo afirma:

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de tempo de derribar e tempo de tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar tempo de abraçar e tempo de afastar-se de tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar tempo de rasgar e tempo de tempo de estar calado e tempo de tempo de amar e tempo de tempo de guerra e tempo de paz”.

Logo a seguir e no mesmo contexto, ele continua dizendo:
“Tudo fez Deus formoso no seu devido também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o principio até ao fim”

E arremata:
“Sei que tudo quanto Deus faz durará nada se lhe pode acrescentar e nada lhe tirar; e isto faz Deus para os homens temam diante dele. O que é já foi, o que há de ser também já foi. Deus fará renovar-se o que se passou”.

Tema: Atitudes para um Ano Novo Realmente Novo

1.Confiança na Soberania e na Bondade de Deus

A confiança encontra-se na certeza de que não é o tempo, nem o acaso que governam a vida, por mais que não encontremos frequentemente sentido nas coisas que acontecem conosco.

O texto afirma:
“Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o principio até ao fim”

Há um Deus no controle de tudo, porque Ele fez tudo “devidamente”, “apropriadamente”, “pertinentemente”.

Este senso natural de transcendência é tão humano, quanto é o senso de incompreensão diante da magnitude da vida.

Na revista Veja de 15/12 tem uma matéria na seção de astronomia com o título “O Mistério das Estrelas”, que trata da descoberta recente de que o número de estrelas pode ser o triplo do que se estimava, algo como 100 sextilhões ou 100000000000000000000000 (1 seguido de 23 zeros!).

Porém, o mais incrível é a chamada da matéria que diz assim: “O valor da descoberta de que o número de astros é o triplo do que se pensou até agora talvez seja a confirmação de que há um elemento além da compreensão humana em um céu estrelado”.

Na linguagem de Paulo no areópago de Atenas “Deus fez o mundo e tudo que o nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra (...) de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus, se porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós” (Atos 17:24,26)

O “elemento além da compreensão humana em um céu estrelado” é o Deus que já disse que as estrelas eram incontáveis.

Gerado a partir deste sentimento de transcendência surge o sentimento de dependência, descrito por Paulo assim: “pois nele vivemos e nos movemos, e existimos” e pelo próprio Jesus, o Filho de Deus, “sem mim nada podeis fazer".

Assim, meus irmãos, a primeira atitude é a da confiança num Deus soberano e altíssimo, mas não distante e indiferente. O Deus que se revelou em Jesus, o Emanuel, o Deus Conosco, de quem comemoramos o nascimento há poucos dias, é Deus presente, o Alfa que iniciou 2010 e o Ômega que o encerra daqui a alguns minutos.

Ele continuará sendo o mesmo Alfa que iniciará 2011 e, se vimos estivermos para ver, Ele que é Eterno também encerrará o ano de 2011, a não ser que a eternidade rasgue o tempo através do retorno de Jesus e sejamos convidados a viver plenamente a vida com Ele.

Se você quer um ano realmente novo, deixe-me lhe dizer o que poderá fazer um ano realmente novo: uma renovada confiança na soberania e na bondade de Deus para com você e para com toda a sua vida.

A segunda atitude é a

2.Indignação contra o que é realmente inaceitável

Muitos erroneamente entendem indignação como revolta, insubmissão. Mas o dicionário etimológico nos ajuda: “in-dignação é a atribuição que fazemos de que algo não é digno e portanto, não podemos

Há muitas coisas revoltantes e indignas na vida. As guerras entre nações que dizimam milhões de uma vez e as lutas cotidianas entre as pessoas por um lugar ao sol que matam também milhões, só que um de cada vez, nos seus sonhos, esperanças, desejos e expectativas deveriam nos dar motivos suficientes para indignar-se contra o próprio ser humano, responsável que é por seus atos.

Uns preferem transferir a culpa e vetorizam sua indignação para Deus, como se fosse possível atribuir a Deus aquilo que é responsabilidade exclusivamente nossa. Estes mesmos não trocariam jamais a liberdade que tanto valorizam para que Deus impedisse as pessoas tanto de fazer o que é errado, como de satisfazer os seus prazeres e desejos egoístas.

Hoje eu proponho que se você tiver de se indignar com algo ou com alguém, indigne-se com você mesmo! Indignar-se consigo mesmo não é um ato de auto-flagelamento emocional ou moral, mas uma atitude de procurar em si mesmo e não em outros, a responsabilidade das coisas.

Eu sei que há coisas das quais somos vítimas e não agentes. Não falo delas sobre as quais pouco ou nada podemos fazer ou evitar, mas falo de responsabilidade pessoal.

Indignemon-nos com aquelas coisas, sobre as quais efetivamente temos responsabilidade como agentes moralmente livres para fazer o que deve ser feito e não fazer o que não deve ser feito.

Convenhamos, muitas das dores, lutas e sofrimentos de 2010 foram causados por nós, seja porque fizemos o que não deveria ser feito, seja porque não fizemos, por irresponsabilidade, omissão ou negligência, o que deveria ser feito. Ficar procurando culpados é atitude infantil, improdutiva, inútil e injusta.

É preciso uma atitude de reconhecimento, de contrição, de quebrantamento, de arrependimento. Se preferirmos jogar para debaixo do tapete, por causa das emoções da chegada de um ano novo, as mesmas coisas que ao longo do ano evitamos enfrentar e tratar, então não há esperança para um ano realmente novo.

Ainda no Facebook, uma outra pessoa amiga disse que hoje era “o dia de abrir o envelope com os compromissos que havia feito no início de 2010”.

Eu li rapidamente e não entendi. Pensei que tinha errado o ano. Aí percebi que a pessoa havia feito compromissos, dos quais não tenho a mínima idéia, e colocado num envelope e agora estava na hora do “vamos ver o que consegui fazer”.

Acho uma boa idéia, porque há circunstâncias na vida sobre as quais não temos qualquer poder. São outros que decidem e nos afetam. Mas, como alguém já falou anteriormente "Se você continuar fazendo as mesmas coisas obterá sempre os mesmos resultados"

Indigne-se com você mesmo, mas não fique só nisto para não ser soterrado por sentimentos desanimadores.

Por isso, é preciso também a atitude de

3.Coragem para mudar e ser moldado por Deus.

Se você se indignar-se com o foco certo, então naturalmente você será tomado por uma coragem sobrenatural de mudar. Do seu interior, pelo Espírito Santo, que move toda e qualquer mudança real, verdadeira e positiva, sairá um brado: “Não dá mais! Não quero mais! Não agüento mais! É preciso mudar! Deus me ajuda a mudar!”

Sobre ter coragem para mudar, Salomão afirma:
“Quem somente observa o venho, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará. Semeia pela manhã a tua semente e à tarde não repouses a mão, porque não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas” (Eclesiastes 11:4,6).

Na meditação do boletim do primeiro domingo de 2011 falo de “Ser um vaso novo”, baseado em Jeremias 18, quando o profeta é enviado por Deus para aprender uma lição na casa de um oleiro.

Lá, ele viu um vaso sendo moldado, mas repentinamente o vaso se estraga na mão do oleiro e ele torna a faze dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu. Deus, então, usa da metáfora e pergunta a Jeremias: “Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro?”.

Observe que o vaso não foi descartado, jogado no lixo, desprezado. Foi do próprio barro estragado que Deus fez outro vaso. Outro no sentido de “diferente”, “de um tipo diferente”, “transformado”.

Nada vai mudar ao seu redor, se você não for o primeiro a ser transformado em 2011. Ele lhe quer diferente e é Ele quem faz isto, a partir de sua disposição e voluntariedade. Disponha-te como afirma a letra do hino com o qual encerraremos este culto: “Eu quero ser, Senhor amado, como um vaso nas mãos do oleiro. Quebra a minha vida e faze-a de novo. Eu quero ser, eu quero ser, um vaso novo”.

Sabe por que mudar não é apenas uma questão de emocionar-se num culto de fim de ano? Porque mudança é algo contínuo, que precisa de resolução, de desejo profundo movido por Deus que quer nos mudar. É preciso investimento, dedicação, porque Deus pode tudo que só Ele pode, da mesma forma que só você pode tudo que só você pode fazer!

Se for verdade que tudo que é fácil fazer é mais fácil não fazer – como tenho dito – então é preciso que você tenha uma atitude de coragem para mudar aquilo com o que você se indigna em si mesmo.

Se daquela atitude de indignação vier esta atitude de coragem de mudar, então, você começará a ver contextos, situações, circunstâncias... que você terá coragem também para envolver-se, para dar a sua colaboração, o seu envolvimento, sua participação, cumprindo assim a missão da sua vida, deixando sua marca na história e o legado para as próximas gerações.

Conclusão:

Você lembra que a pergunta a que nos propomos responder neste último sermão do ano foi “Como ano de 2011 pode ser realmente um Ano Novo?”

Vimos que são atitudes que podem garantir isto:
1.A atitude de confiança na soberania e na bondade de Deus.
2.A atitude de indignar-se contra o que é inaceitável, começando de nós mesmos.
3.A atitude de ter coragem para mudar e ser moldado como um vaso novo por Deus.

A última coisa, porém, que eu gostaria que você saísse daqui com ela é um sentimento de derrota, de pessimismo etc. É preciso ter clareza que tanto Deus, como você estão envolvidos neste grande desafio de vivenciar um ano de 2011 realmente novo!

Daí porque cabe tão bem encerrar esta Mensagem e este Ano de 2010 com a famosíssima Oração da Serenidade, escrita pelo teólogo protestante Reinhold Niebuhr que viveu de 1892 até 1971 e trabalhava no Union Theological Seminary, nos Estados Unidos da América.

"Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras".