Wednesday, March 07, 2007

Viéis Jornalístico


Eu já estou ficando meio cansado, meio irritado com a postura de jornalistas quando se trata de determinados temas.
Veja alguns exemplos:
Roberto Pompeu de Toledo, cuja redação é quase sempre sensata e equilibrada, escorreu feio no último ensaio da Revista VEja de 7 de março do corrente sob o título "África, feitiçaria e maioridade penal".
Sob o pretexto de tratar do "incrível - eu acrescentaria abjeto e inaceitável - caso das crianças de Kinshasa e o deslocado debate sobre a punição de menores no Brasil", Pompeu de Toledo inclui a "ação dos pregadores pentecostais e sua ênfase nos artifícos do demônio" entre as causas para o dilema das crianças-feiticeiras.
Para quem não está a par do assunto, as crianças-feiticeiras são "crianças às quais são atribuídos poderes capazes de causar desgraças diversas a suas famílias, conhecidos e vizinhos. Muitas acabam abandonadas pelos pais e viram crianças de rua (sic!)" na capital da República Democrática do Congo, ex-Zaire.
O próprio ensaísta diz que o fenômeno tem "origem na penúria africana", que a "crença popular" e que "um período de guerra civil, miséria e desintegração" também contribuem com o problema.
No entanto, dois parágrafos inteiros dos 8 parágrafos do ensaio são dedicados a relatar "a ação dos pregadores pentecostais" e somente uma frase traz alguma tênue atenuação para os pregadores: "o pregadores não inventaram, mas deram força ao mito dos pequenos malditos" para logo voltar à carga: "As TVs controladas por evangélicos apresentam programas em que as crianças são apresentadas e denunciadas ou submetidas a exorcismos".
Ora, não sou advogado de ninguém, nem mesmo de pessoas que dizem professar a mesma fé cristã que eu professo, ainda que sejam de denominações e convicções teológicas distintas do protestantismo histórico reformado no qual me alinho, mas há um viéis religioso visível aqui.
Por que não falar do extraordinário trabalho que estes pregadores evangélicos, suas igrejas e organizações fazem em toda a Africa e ao redor do mundo? Por que não dizer que quando as crianças-feiticeiras são abandonadas pelas famílias e rejeitadas pelas comunidades são recolhidas pelo cristãos, que não se limitam a "sessões de exorcismo" como se fossem ultramontanos medievais ou exorcistas da sagrada inquisição, mas alimentam, educam, oferecem cuidados médicos, profissionalizam etc.
Eu tenho consciência que a cristandade - não o cristianismo - já cometeu muitos erros, crassos erros morais, éticos e espirituais em nome de um Cristo que nunca autorizou que assim se fizesse, mas o mundo não teria uma enormidade de benefícios culturais, ecológicos, sociais, morais, familiares, religiosos e espirituais, promovidos por cristãos e organizações cristãs ao longo de mais de dois mil anos de história ocidental.
Esqueceram de David Livingstone, de William Wilberforce, dos colportores brasileiros, dos missionários, alguns dos quais conheço pessoalmente, que se embrenham em lugares do mundo inteiro que ninguém quer ir para cuidar e amar ao próximo.
É brincadeira! Esse "esquecimento" não dá para ser visto como descuido e sim como proposital, fruto de um viéis anti-religioso que domina os meios de comunicação.

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