Tuesday, April 10, 2007

O Apóstolo, o Rabino e a Polícia.

Na sátira política “A Revolução dos Bichos” George Orwell – autor de “1984” que cunhou a expressão big-brother, ou o grande irmão – ironiza a pretensa igualdade do comunismo russo dizendo que “todos eram iguais, mas uns eram mais iguais do que outros”.

A expressão me veio à mente por causa dos episódios envolvendo o apóstolo Estevam Hernandes e sua esposa a bispa Sônia pegos com dólares não declarados na alfândega americana e o roubo das gravatas Hermès, Gucci, entre outras, pelo rabino Henry Sobel também em solo americano.

Não vou entrar no mérito de estabelecer culpa ou emitir juízos de valor, nem conjecturar os porquês disto ou daquilo, porque entendo que falar de algo que não se conhece bem é leviandade e julgar os outros é arrogância pretenciosa.

Pois bem, o meu foco é a maneira como as coisas são tratadas diferentemente mesmo relacionando-se com pessoas iguais e situações iguais. Nos dois episódios há delitos – evasão de divisas e falsidade ideológica, além de outros possíveis enquadramentos tanto na lei americana, como na brasileira, no caso dos evangélicos e furto, no caso do judeu – e por conseguinte, os casos deveriam ser simplesmente de polícia e a posteriori, de justiça.

No entanto, os dólares dos Hernandes viraram “milhares de dólares” no noticiário tendencioso da grande mídia ligados imediatamente a haras de cavalos, ricas propriedades e outros sinais exteriores de riqueza , enquanto as gravatas de Sobel viraram um caso clínico de distúrbio psicológico por interação medicamentosa e outras explicações que foram dadas por um médico judeu de um hospital judeu ligado à forte colônia judaica de São Paulo.

Claro que as biografias e as fichas policiais de Sobel e Hernandes não se comparam. Claro que a atitude do rabino foi muito mais cristã do que a do evangélico. Claro que os montantes envolvidos são bastante diferentes.

Mas, claro também que ainda reside um forte componente preconceituoso quando deslizes, erros e pecados são cometidos ou atribuídos a líderes cristãos, especialmente evangélicos.

Em grande parte, creio que é justo que exija-se mais de quem mais se proclama como ético, isto é, se nós cristãos evangélicos dizemos em alto e bom som que fomos transformados pelo Evangelho, então é compreensível e esperado que sejamos cobrados na proporção das nossas alegações.

Todavia, não é o primeiro - não creio que será o último – caso deste tipo de diferenciação irresponsável de quem deveria noticiar a verdade dos fatos, porque generaliza-se a todo um segmento que não apenas é contrário a estas práticas de modo geral e especialmente condena seus pares e muito mais, seus líderes, quando os cometem

Pode parecer teoria conspiratória – que tanto detesto – mas não é coincidência que num momento em que a gangorra da cobertura jornalística e do aporte de verbas governamentais pende para paradas gay em todo o Brasil em detrimento de eventos como a Marcha para Jesus, justamente os líderes desta iniciativa sejam expostos à execração pública antes de serem devidamente julgados e absolvidos ou condenados, enquanto o rabino parece um coitadinho que tomou um remédio que não deveria ter tomado.

Realmente, uns são mais iguais do que outros...

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