Thursday, March 01, 2007

Ter um filho, escrever um livro, plantar uma árvore.


Houve uma época que estas três ações eram a certificação de alguém feliz e realizado. Hoje, ter um filho tornou-se tarefa bem banalizada, seja pela moderna tecnologia de fecundação ou pela velha irresponsabilidade humana.

Escrever um livro também não é grande feito conforme se vê nas prateleiras repletas de exemplares de auto-ajuda robustos de fórmulas fáceis e anoréxicos de conteúdo.

Mas, o ato de plantar árvores... Ah! Este sim ganhou ares de modernidade e adornado pelas cores fortes da causa ambientalista e pelo perfume sedutor do marketing social promete ser a onda do momento e, provavelmente, por um bom tempo futuro.

Na revista Veja de 21 de fevereiro de 2007, na secção Ambiente o título é “A neutralização da culpa” e trata da moda ecologicamente correta de plantar árvores para compensar a emissão de poluentes.

A idéia que já seduziu empresas como a British Airways e celebridades como o vice-presidente verde americano Al Gore, Leonardo DiCaprio, Rolling Stones e os brasileiros Sandy & Junior e Regina Casé, também colocou lado a lado o carnaval de São Paulo e a missa do Papa Bento XVI que será celebrada na sua visita ao Brasil.

O conceito é simples. A árvore consome pelo seu metabolismo uma grande quantidade de dióxido de carbono (CO2) emitidos por fontes poluentes da atividade humana e assim, o carbono fica retido na sua estrutura até que morra ou seja cortada.

O título quase religioso da matéria de Julia Duailibi demonstra que, marketing à parte, a consciência ambiental tem se desenvolvido ao redor do planeta. Até a previsão do clima nos nossos telejornais se aproxima quase de uma aula de metereologia com pitadas de catastrofismo televisivo.

O que importa é que a idéia de culpa e de expiação subjacente a toda a questão traz à luz conceitos abandonados no ideário pós-moderno. Culpa era um conceito já corroído pela analgesia ambivalente da ética situacional e que dava lugar a algo mais suave como vergonha social, incorreção política ou algo parecido. E expiação, então, nem se fala.

Quem imaginaria um adminstrador de empresa citado pela revista afirmando que pretende neutralizar o nascimento de seu filho plantando árvores que compensem a emissão de poluentes tanto no parto, como na própria gestação do herdeiro!

Pois é, só há uma pequena diferença em toda esta semelhança superficial entre a expiações. No caso ambiental, o que temos é uma auto-expiação, isto é, eu penalizo a mim mesmo pela culpa assumida, seja por atos cometidos só por mim ou em conjunto com outros.

No caso cristão, a expiação é substitutória, ou seja, vicária. Há uma constatação que a dimensão da culpa é tão significativa que não há ato compensatório suficiente. Então, alguém toma a culpa em meu lugar de maneira voluntária e definitiva, deixando-me livre da culpa e das conseqüências jurídicas do erro.

É um conceito de expiação único dentre as tradições religiosas mundiais e que diferencia o cristianismo por oferecê-la ao mercado religioso global. Não tenho dúvida que é um conceito inaceitável tanto à mente dos que pensam que não têm culpa alguma e, portanto, não precisam pagar nada e, muito menos aceitar que alguém pague em seu lugar, como também dos que acham que quem pecou, que pague, sem nenhuma possibilidade de substituição.

Contudo, é justamente desta singularidade que resulta o grande valor da graça oferecida por Jesus Cristo. Ele paga no meu lugar uma culpa que é minha e concede-me sua justiça que não era originalmente minha.

Isto é uma forma ecologicamente correta de dizer: "Jesus morreu por mim". Vamos plantar esta semente nos corações!

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