Thursday, March 08, 2007

Mulher, celebrações e desafios





Num dia como o de hoje - Dia Internacional da Mulher - a gente que escreve aqui e acolá algumas mal traçadas linhas muito mais por prazer e pretensão de ser ouvido, do que necessariamente por algum arroubo de ser original, fica meio que numa encruzilhada.

Num certo sentido há muito que celebrar. Noutro, muito que lamentar. E eu nem estou falando de celebrar "as grandes conquistas do feminismo" e dos novos espaços regiamente ocupados pela mulher neste século XXI, nem de lamentar que muitos dos seus direitos ainda são vituperados e vilipendiados mundão afora. Sobre isso eu acho que muita gente vai escrever e certamente com muito mais propriedade do que eu.

Todavia, o que realmente me atrai a atenção é quando eu leio coisas como as escritas por Alain Touraine, o renomado autor de "Um novo paradigma para compreender o mundo de hoje" (Petrópolis: Vozes, 2006) e "Le Monde des Femmes". (Paris: Fayard, 2006.)

Nele, Touraine afirma que atualmente no que se refere à mulher “o tema da sexualidade ocupa o lugar central, que era antes, na sociedade industrial, o trabalho” e que o desafio é "compreender por que as mulheres estão na origem da nova sociedade e da nova cultura que se forma sob nossos olhos”, pois "são as mulheres que inventaram uma sociedade situada além da separação dos homens e das mulheres”.

Obviamente que todos sabem que o o movimento feminista foi inicialmente político, para obter o direito de voto para as mulheres e que só em seguida, o objetivo principal se tornou a liberdade cultural da mulher, em particular naquilo que concerne ao seu corpo e assim as mulheres têm adquirido hoje uma posição dominante numa nova posição da cultura.

Aí começo a me questionar se é bom negócio para a humanidade trocar a ditadura machista pela novel ditadura feminista. Fica parecendo aquela alternância de ditadores em republiquetas de bananas da América Latina ou da África. O horror continua o mesmo, apenas muda o nome do mandante.

Para ele, este perigo não existe pois "a sociedade dos homens tende a dar a prioridade à conquista do mundo", enquanto que "as mulheres envolvem totalmente a sociedade em direção a uma nova prioridade, a da construção de si própria. Mais precisamente, quando a sociedade masculina impulsionava ao máximo a polarização da sociedade entre uma elite e uma massa, as mulheres procuram reunificar os elementos que foram separados: vida pública e vida privada; sexualidade e espírito".

Embora tanta ingenuidade e idealismo de Touraine logo se esvae quando reconhece que "É bem claro que são hoje as mulheres que tomam a palavra e que os homens, ou se calam, ou aprovam a linguagem das mulheres". O que apenas confirma meus presságios: em gerações futuras, o que se descortina é uma organização apicultural, isto é, uma abelha-rainha e um exército de machos prontos para procriar e para defendê-la. Triste fim para os homo seculorum ventuno!

Esta evolução que ele considera rápida "separará condutas sexuais sempre mais diversificadas e a construção da vida familiar, tomando, ela própria, formas muito diversificadas. A relativa facilidade com a qual se avança para o reconhecimento do casamento homossexual indica que as barreiras tradicionais se enfraqueceram consideravelmente", portanto, minhas reflexões não estão tão sozinhas assim.

Enfim, celebrar a restauração de uma mulher crida à imagem e semelhança de Deus tanto quanto o homem o foi me parece cada vez mais difícil num contexto cultural em que já começa a se situar entre Deus e o homem. Se cuida Deus!

Às mulheres da minha vida - mãe, irmãs, esposa, filha, tias, avós, primas, sobrinhas, cunhadas, colegas, amigas, ovelhas - meu cumprimento mais uma vez extasiado diante não apenas da beleza física tão decantada, mas pela coragem e fibra, pela justiça e integridade, pelo amor e dedicação, pela inteligência e sabedoria... pela feminilidade jamais disponível a nós, simplesmente homens!

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