Tuesday, April 24, 2007

Como um vale iluminado em meio a montanhas escuras...

Sob o título "A Graça, essa incompreendida", o Rev. Ricardo Barbosa afirma: "no passado sempre houve essa necessidade de se fazer alguma coisa para merecer o amor de Deus, hoje temos um outro cenário mais sutil e tão perigoso quanto aquele, que é a necessidade de Deus fazer algo para merecer o nosso amor".

Para ele, "A cultura pós-moderna gerou uma inversão nesse processo. No passado, o sentimento de culpa e a consciência do pecado eram grandes e faziam do ser humano alguém que não merecia o amor divino. Hoje, com o crescimento do individualismo, da cultura do consumo e dos direitos do consumidor, da busca pela auto-realização e da auto-suficiência, a sociedade vem produzindo uma geração de narcisistas auto-indulgentes que precisam ser bajulados, mimados e adulados, sem que isso sequer produza algum sentimento de gratidão."

E continua: "Seja para aqueles que se sentem indignos e procuram fazer alguma coisa que os tornem merecedores do amor de Deus, seja para aqueles que se julgam lindos e maravilhosos, para os quais Deus tem de se desdobrar para conquistar seu amor, o que vemos é a enorme dificuldade que o pecado criou para a compreensão do amor divino e para a forma como precisamos responder a esse amor em todos os nossos relacionamentos."

Refletindo justamente sobre esta realidade vivenciada não apenas na minha própria vida e relacionamentos, mas nos desdobramentos da minha prática pastoral no cotidiano, tenho chegado à conclusão que, indubitavelmente, a graça é mesmo incompreendida.

Ora banalizada e travestida de barganha de pouco valor, ora esquecida e decorada com resquícios legalistas, a graça tem sido vituperada e massacrada. Poucos a vivenciam, embora muitos digam crer nela.

Perceba, por exemplo, a maneira como as pessoas tratam qualquer líder que cai em desgraça diante da sua comunidade, porque cometeu um daqueles pecados imperdoáveis: adultério ou roubo.

Uns são indulgentes e em nome da unção e do ministério da pessoa não tratam do assunto, outros são lépidos em afirmar: "eu sempre soube" ou "bem que eu disse" para, logo depois, incluírem o sujeito no SPC eclesiástico.

Por trás da primeira atitude, a tendência idólatra de supervalorização do homem e subjacente à segunda, a raiz malvada do juízo inquisitorial de quem se acha superior a todos os demais e impassível de cair pois "pensa estar em pé".

Este filme tem sido visto nas melhores igrejas protagonizado pelos melhores líderes com coadjuvantes de primeira linha: os donos dos redutos eclesiásticos.

A maneira de lidar com situações assim está na mescla sábia e compassiva de confrontar o pecado e salvar o pecador e o nome disto é graça. Aquela mesma encarnada em Jesus de Nazaré de quem vem a graça e a verdade, conforme as palavras de João, o apóstolo.
Quando compreendemos e vivemos esta graça é como um vale iluminado em meio a montanhas escuras...

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