Wednesday, March 21, 2007

Não sou melhor do que ninguém, mas...

Eu quero o meu em almas, não em dinheiro!
[Da série “folhetim de um post só” -sempre baseado em fatos reais que você lerá bem mais tarde nos jornais]

-Seu burro, perturbado, vagabundo, preguiçoso, canalha, endemoniado, almofadinha, derrotado e acomodado – vociferou o bispo Romualdo Panceiro, da Igreja Universal do Reino de Deus, possuído por uma metralhadora pentecostal de mal-dizeres e difamações. O rosário de edificantes adjetivos tinha como fiel depositário o então colega de religião Jenilton Melo dos Santos, pastor do mesmo templo que, segundo a contabilidade do bispo, não havia atingido a cota de arrecadação mensal de R$ 50 mil.
Santos foi humilhado, no começo de 2006, na frente da amada e fiel esposa e de um grupo de amigos da mesma igreja. Resignado, orou e foi para casa mascando o amargo e frio chiclê das ilusões perdidas. A caminho do lar, alguns irmãos mais exaltados louvaram a solidariedade cristã e disseram que estavam ali para o que der e vier, inclusive para esquecer o “não matarás” das tábuas sagradas. O pastor, homem de paz e boa vontade, pediu, solene, depois de recitar um João nada apocalíptico: “Deixa quieto”. Os amigos, entre eles um ex-membro do PCC convertido por Cristo, acalmaram os ânimos.
Aconselhado por outros tantos ex-pastores que foram demitidos pela mesma razão -não alcançar a divina cota mínima-, Santos recorreu à justiça dos homens. Com a palavra o advogado J.C., da cúpula da Igreja Universal:
-A meta dos pastores não é financeira, os pastores precisam ganhar é almas para Cristo! – disse o rábula pago por Edir Macedo. – A Iurd é uma entidade religiosa sem fins lucrativos! – completou, dramático como um Otelo.
A juíza Ana Paula Pellegrina Lockmann, da 2ª Vara do Trabalho de Piracicaba, não caiu no conto do Fausto pentecostal. Acaba de lavrar a sentença na qual condena o bispo boca-do-inferno, por danos morais, a indenizar o ex-pastor em R$ 50 mil, além de morrer com as despesas de custas de praxe. No momento da leitura da sentença, um velho contínuo do Fórum, aqui identificado apenas como sr. Jerônimo, ainda balbuciou para a juíza, atrás da cortina:
-Meritíssima, se Edir Macedo está mesmo comprando almas, avisa ao advogado que lá em casa tem uma dúzia, a um salário mínimo a cabeça, pra levar na hora, sem burocra, e eu ainda entrego em domicílio!
Publicado por Xico Sá - 21/03/07 12:01 AM

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